Um encontro entre arte e educação para dizer “chega de trabalho infantil”

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13/10/2016|

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No palco, as mãos trêmulas de Raíssa cobriam a boca. Seus olhos castanhos perseguiam o chão e a plateia, felizes e surpresos, como quem não acreditava no anúncio que acabara de ouvir. Ao lado de Lia, Tereza Vitória, Antony Gabriel e Felipe Santos, Raíssa estava na Assembleia Legislativa do Ceará para receber o troféu do Prêmio MPT na Escola. Os amigos, todos de 14 a 16 anos, foram contemplados com o primeiro lugar na categoria “curta-metragem”, pelo  documentário Victor: o mundo que encontrei lá fora.

É difícil acreditar que a produção, do roteiro à edição final, incluindo a pós-produção, foi realizada em apenas dois meses pela turma da Escola Municipal José Ramos Torres de Melo, localizada à beira-mar no bairro de Mucuripe, em Fortaleza. O curta conta a história de Victor, menino de 14 anos, sem família, que trabalha em atividades perigosas para sobreviver. Ele retoma os estudos quando encontra o Conselho Tutelar.

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(Da esq. para a dir.): Felipe, Gabriel, Raíssa, Tereza e Lia comemoram o primeiro lugar na categoria “Curta-Metragem”. Crédito: Ana Vieira

Luciana Mota, diretora da instituição, foi escolhida pelos adolescentes para o papel da conselheira tutelar. Antoni Gabriel interpretou Victor, o protagonista. Responsáveis pelo roteiro, as meninas, orientadas pelo professor de música Pedro Aerton, inspiraram-se na realidade encontrada à porta da escola, pela qual transitam crianças em situação de vulnerabilidade, de desamparo, vendendo bombons, água e distribuindo panfletos. Crianças que deveriam estudar em vez de trabalhar.

Conheça as escolas ganhadores em cada categoria da etapa cearense:
Conto | 1o lugar: Escola de Ensino Fundamental Pequeno Polegar (de Viçosa do Ceará)
Curta-Metragem | 1o lugar: EM José Ramos Torres de Melo (de Fortaleza)
Esquete teatral | 1o lugar: Escola de Ensino Fundamental Antonieta Cals (de Aracati)
Música | 1o lugar: Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamenetal Terto Venâncio (de Redenção)
Pintura | 1o lugar: Escola Municipal de Ensino Fundamental Luís Gonçalves (de Beberibe)
Poesia | 1o lugar: Escola de Educação Básica Professora Irene Nonato da Silva (de Quixeré)

“Sabe, moça, é uma recompensa muito grande ter feito esse vídeo. Foi tão importante para nós… Nem notamos que a pesquisa continuou no meio das nossas férias. Estávamos envolvidos mesmo! Sentimos a dor e a dificuldade das crianças em situação de trabalho, e isso nos transformou”, diz, pausadamente, Tereza Vitória. “Estamos deixando um legado com este vídeo”, completa a garota, segura e sorridente. “Essa pesquisa nos ensinou tanto… Todo mundo tem de saber que o trabalho infantil precisa ser abolido. É uma covardia!”, diz Raíssa, convicta, mas ainda com as mãos geladas segurando a medalha conquistada. “Pedi aos nossos familiares para rezarem por nós, no mínimo, dez vezes. Foi uma torcida boa. Não é que deu certo?”, conta.

“É muito engrandecedor estar aqui e ver o resultado concreto, realizado com esforço e carinho pela turma. É algo que nos inspira a ajudar na desconstrução dos mitos de que o trabalho enobrece, por exemplo. Pelo contrário: é preciso investir na conscientização e na mobilização”, completa Luciana, diretora da escola, com a experiência de quem participou do prêmio pelo segundo ano consecutivo. Os primeiros colocados (quadro acima) receberam troféus e notebooks. Eles ainda vão concorrer a R$ 240 mil na etapa nacional do projeto, marcada para o mês de dezembro, em Brasília.

Multiplicação de saberes

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Seção solene do Prêmio Peteca | Crédito: Ana Vieira

A tarde da terça-feira, 11 de outubro, não teve o ambiente sério que normalmente toma conta do salão nobre da Assembleia Legislativa do Ceará. A celebração foi uma homenagem voltada aos oito anos do Projeto Peteca, criado pelo Ministério Público do Trabalho e coordenado pelo procurador Antonio de Oliveira Lima, com o objetivo de reduzir os altos números de trabalho infantil no país. A plenária foi composta por representantes do Ministério do Trabalho, entre eles Ronaldo Curado Fleury, procurador-geral, e Valesca de Moraes, coordenadora nacional da Coordinfância (Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente).

“A paixão e o conhecimento do dr. Antonio sobre o direito das crianças e dos adolescentes nos inspira. O Projeto MPT na Escola nos serve de exemplo. É uma grande lição. Conto até um segredo: entre nós, Antonio é conhecido como Antonio Peteca”, disse Fleury. “As apresentações não são apenas uma atividade escolar. Elas consistem em um trabalho de conscientização feito com crianças, seus pais e a comunidade. Um resultado positivo que nos permite sonhar.”

A turma da escola de Ensino Fundamental Antonieta Cals, pentacampeã na categoria “esquete teatral”. Crédito: Paula Patrone

Para o estudante Felipe Caetano, de 14 anos, Lima é uma grande inspiração para todos aqueles que lutam contra o trabalho infantil. “Ele já tirou mais de 150 mil crianças e adolescentes da situação de trabalho. Só temos de agradecê-lo. Dr. Antonio é o cara!”, discursou. Estudante do 9o ano do Ensino Fundamental, Felipe Caetano é coordenador do Núcleo de Cidadania d@s Adolescentes (NUCA), localizado na praiana cidade de Aquiraz, a 36 km de Fortaleza. Além do Núcleo, está no caminho de Felipe a elaboração de um livro colaborativo com outros jovens sobre os direitos da infância e da adolescência.

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Paula Patrone, coordenadora executiva do Aprendiz, recebe a placa em homenagem à Associação. Foto: Ana Vieira

O valor das parcerias

“Temos aqui a oportunidade de reconhecer publicamente a contribuição de profissionais e entidades para a luta em favor da infância”, disse Lima, sobre os homenageados da noite: o Movimento Humanos Direitos, do Rio de Janeiro, representado pelo ator Gilberto Miranda, e a Associação Cidade Escola Aprendiz, com a presença de sua coordenadora-executiva, Paula Patrone. O Aprendiz lançou no dia 26 de setembro, em parceria com o Ministério Público do Trabalho e a Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Ceará (APDMCE), a plataforma de comunicação Rede Peteca – Chega de Trabalho Infantil.

 

“Ver de perto o trabalho das crianças e seus educadores, imaginando o processo de conscientização, é algo muito representativo”, afirmou Gilberto Miranda, ao relembrar a apresentação dos alunos, em especial da esquete teatral Antonieta no mundo do Peteca, da Escola Antonieta Cals, pentacampeã na categoria.

Para Paula Patrone, da Cidade Escola Aprendiz, é uma grande alegria ver a Associação vinculada “a um projeto de pessoas tão comprometidas, que dedicam a sua vida, o seu trabalho pela erradicação do trabalho infantil”. Ela completa: “É uma honra para o Aprendiz ser homenageado neste evento. Agradecemos pela acolhida, pelas trocas e pelos aprendizados. Vida longa à Rede Peteca!”

*Confira, em breve, a íntegra da cobertura no site do MPT-CE.

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