26/10/2016|
Por Ana Luísa Vieira
Você já ouviu falar da Suazilândia? Sabe como vivem as crianças nascidas lá?
Conhecer a realidade desse país africano, um dos mais pobres do mundo, foi a missão dada à reportagem durante a tarde de quinta-feira, 20 de outubro, no Arsenal da Esperança, instituição localizada no bairro da Mooca, Zona Leste de São Paulo.
Antiga hospedagem de imigrantes, o endereço é, há 20 anos, um centro de acolhida para pessoas em situação de rua e refugiados. A entidade de origem italiana visa lançar sobre esses indivíduos um olhar humanitário. Em um grande espaço com jardins, bancos de madeira e quartos bem organizados, adultos realizam oficinas de jardinagem e azulejos, além de outras atividades que buscam ajudá-los em sua reinserção.
Qualquer escola, pública ou privada, pode participar do “Almoço com os povos”, agendando data e horário pelo e-mail [email protected].
O local também propõe atividades educativas voltadas a jovens estudantes. Durante o evento “Almoço com os povos”, adolescentes recebem pequenos papéis com a bandeira e o nome de um país. Cada aluno se torna representante da nação que lhe foi concedida. A ideia é escancarar a desigualdade social: enquanto na Suécia um adulto vive, em média, com 94 dólares diários, em Gana ele ganha pouco mais de um dólar por dia para o seu sustento.
Dura realidade a ser combatida
Os dados da Organização das Nações Unidas (ONU) passam pelo telão, causando cochichos espantados. No mundo, 11% dos países são ricos e 89% , pobres; diariamente, a fome mata cerca de 100 mil pessoas.
É esse o cenário da Suazilândia e da maioria dos outros 199 países “distribuídos” aos participantes da atividade.
Vitor, bandeira da Indonésia em mãos, recebe três pipocas, a mesma quantidade oferecida à representante da Suazilândia. Já Diego, que recebeu o Japão, senta-se à mesa na qual um banquete é oferecido, enquanto Henrique, do Irã, ganha um saquinho com as pipocas racionadas ao outro grupo. Ao ouvir “bom apetite”, quem tem menos alimento pede a quem tem mais. Cada um deve decidir como repartir a comida. Há quem tente negociar trocas; alguns poucos se escondem para não precisar dividir.
Otimismo nas ações
“Percebemos que os jovens, cada vez mais, têm contato com notícias que chegam do mundo inteiro, mas é difícil para eles entender o que existe por trás dessas informações”, explica o palestrante e missionário Marco Vitalle. “Como o fluxo de informações é grande, eles não conseguem entender o que é mais importante. Notamos ser necessário ajudá-los a pensar com o estômago, simulando o nosso mundo num momento cada vez mais crítico para milhões de pessoas: a hora do almoço. Ou a hora da fome, para muitos.”
“Acho interessante a escola promover atividades tão longe da nossa realidade. Dói assistir ao que aconteceu aqui: muitos com pouco, poucos com muito. O mundo é desigual demais”, ressalta Vitor, de 14 anos, com sua bandeira da Indonésia. “É uma realidade assustadora e a atividade nos choca mesmo. Eu saio daqui com a sensação de que devo fazer algo”, diz Luana, de 15 anos, representante de Gana.
Para Marco Vitalle, a lição ali aprendida é positiva: todos podemos fazer um pouco mais. “A vontade de mudar o mundo é o sonho que nos ajudou a realizar nossa aventura e nos ajudará a combater a fome”, afirma.
A tarde de 20 de outubro no Arsenal da Esperança reuniu 200 adolescentes do Colégio Miguel de Cervantes, localizado no Morumbi, Zona Sul da capital. Eles atravessaram a cidade logo após a apresentação de vídeos realizados na escola para o “Prêmio das Crianças do Mundo pelos Direitos da Criança”, que tem como patronesse a Rainha Silvia, da Suécia, representada no encontro por Danielle van Fongeren, assistente do cônsul-geral.
A próxima edição acontecerá em 2017, em Estocolmo, reunindo vídeos produzidos por crianças de todo o mundo sobre os três finalistas:
- Rosi Gollmann, militante pela infância na Índia e em Bangladesh;
- Manuel Rodrigues, atuante em um projeto pelo direito das crianças com deficiência visual em Guiné-Bissau;
- Molly Melcher, atuante na erradicação da mutilação genital feminina e do casamento forçado.