02/08/2017|
Por Ana Luísa Vieira
Patrício tinha 12 anos. Ele poderia ter passado o último domingo brincando em um parque com três amigos da mesma idade – não fosse o fato de todos eles serem vítimas do trabalho infantil.
Naquela tarde, Patrício e outros garotos trabalhavam, em troca de R$ 20 cada um, escavando barro para terraplanar o quintal de um conjunto habitacional Minha Casa, Minha Vida, no bairro de Betolândia, em Juazeiro do Norte (CE), cidade localizada a 490 km de Fortaleza.
Patrício morreu soterrado enquanto trabalhava. Mesmo com a chegada das equipes de resgate do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), o garoto não resistiu aos ferimentos.
“A mãe dele não queria que ele trabalhasse, mas ele dizia que estava fazendo esse serviço para juntar dinheiro e comprar um celular bom. Era o sonho dele”, contou Cícera Lorena de Sousa Lima, tia de Patricio, à reportagem do Ceará TV, reproduzida pelo portal G1.
A família havia se mudado recentemente para o conjunto habitacional e o menino ainda não tinha sido matriculado em uma nova escola. Segundo os moradores, era comum ver crianças trabalhando na região e não se “via perigo” em encontrá-las exercendo tal atividade.
Graves consequências
Muitos são os mitos relacionados ao trabalho precoce, entre eles o de que “trabalhar na infância enobrece”.
O acidente de Patrício comprova a gravidade do trabalho infantil no Brasil e engrossa as estatísticas do Sinan (Sistema Nacional de Agravos de Notificação). De janeiro de 2007 a junho de 2017, 23.572 crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos foram vítimas de graves acidentes de trabalho no Brasil. Desse total, mais de 200 morreram.
“O risco de acidentes envolvendo crianças e adolescentes é seis vezes maior que o risco corrido por adultos, justamente por eles ainda estarem em desenvolvimento”, explicou Antonio de Oliveira Lima, procurador do Trabalho do Ministério Público do Trabalho no Ceará, em recente reportagem da Rede Peteca – Chega de Trabalho Infantil, que mostrou a história de um menino que perdeu dois dedos após acidente de trabalho em uma feira livre de Aracaju.
Para o procurador, a melhor forma de prevenir os acidentes de trabalho envolvendo crianças e adolescentes é combater o trabalho infantil.
O caso já foi noticiado ao MPT, que atuou procedimento para investigar as causas do acidente e adotar as medidas legais cabíveis.