08/02/2019|
Por Bruna Ribeiro
Dez adolescentes atletas do time de futebol Flamengo morreram em um incêndio no alojamento no Ninho do Urubu, na Zona Oeste do Rio, no início da manhã da última sexta (8). As chamas atingiram as instalações onde dormiam jogadores entre 14 e 17 anos que não residiam no Rio. O acidente levanta o debate a respeito do trabalho infantil esportivo.
De acordo com o jornal O Estado de São Paulo, os bombeiros foram acionados às 5h17 da manhã. Por volta das 7h, as chamas foram controladas, mas ainda não há informações sobre a situação de todos os feridos.
Imagens aéreas divulgadas pelo Estadão mostraram uma parte da área do CT completamente destruída. O alojamento era provisório e o time profissional treina no mesmo CT, mas em estruturas novas.
Segundo informações divulgadas pelo portal G1, os meninos seriam transferidos do local onde estavam alojados na semana que vem. Por causa da forte chuva na noite de quarta (6), os jovens atletas estavam de folga.Por isso, os que moram no Rio de Janeiro foram para casa. Desta forma, só pernoitaram no alojamento adolescentes que vieram de fora.
Ficaram feridos Cauan Emanuel Gomes Nunes, 14 anos; Francisco Diogo Bento Alves, 15 anos e Jonathan Cruz Ventura, 15 anos. De acordo com o clube, Cauan teve alta do CTI (Centro de Terapia Intensiva) e foi encaminhado para o quarto. Ele está bem e respira sem ajuda de oxigênio.
Francisco está em curva de melhora, mas se recupera um pouco mais lentamente e segue com tratamento de fisioterapia respiratória no CTI. Jonathan permanece estável, internado no Centro de Tratamento de Queimados do Hospital Pedri II em estado grave, sedado em ventilação mecânica.
Interdição
A Subsecretaria de Proteção e Defesa Civil, vinculada à Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), interditou parcialmente o Centro de Treinamento do Flamengo (Ninho do Urubu) em Vargem Grande, nesta sexta (8).
O isolamento foi feito somente na área dos seis contêineres onde funcionavam os alojamentos atingidos pelo incêndio, ocorrido na manhã de hoje.
De acordo com reportagem do G1, o alojamento não tinha licença da Prefeitura do Rio de Janeiro. A área dos dormitórios foi informada como estacionamento.
Força tarefa do Ministério Público do Trabalho
O Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) criou uma Força-Tarefa para apurar as causas e consequências do incêndio. A ação será coordenada pela procuradora Danielle Cramer.
De acordo com Danielle, o objetivo é assegurar às vítimas ou às famílias vitimadas a devida reparação pelos danos sofridos e atuar de maneira preventiva, verificando se houve descumprimento de alguma norma trabalhista e cobrar do clube adequação aos parâmetros legais vigentes.
“Nós também vamos verificar a natureza do vínculo que havia entre os adolescentes e o clube. A partir dos 14 anos, eles podem estar vinculados como aprendizes”, explicou.
Outros quatro procuradores também farão parte do grupo: Juliane Mombelli, Maria Vitória Sussekind Rocha, Tiago Oliveira de Arruda e Virgínia Leite Henrique. Os procuradores são integrantes do Núcleo de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescentes e do Núcleo de Defesa do Meio Ambiente de Trabalho.
Trabalho infantil esportivo
O acidente levanta a discussão a respeito do trabalho infantil esportivo. No Brasil, o trabalho é permitido de forma protegida a partir dos 16 anos e a partir dos 14, somente na condição de aprendiz.
A ideia da restrição é proteger as crianças e adolescentes das consequências do trabalho infantil, como acidentes de trabalho, exposição à violência, ao abuso sexual e evasão escolar.
Além da evasão escolar, o rendimento daqueles que trabalham é mais baixo e o acesso ao mercado de trabalho digno na vida adulta passa a ser mais difícil. As crianças e adolescentes artistas e atletas são muitas vezes movidas por um sonho, vão morar sozinhas longe das famílias, como os meninos atingidos pelo incêndio, mas nem todas conseguem se profissionalizar no esporte.
Estudo
Na dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Psicologia da Universidade Federal da Paraíba, sob a orientação da Profª Drª Maria de Fatima Pereira Alberto, Kássia Kiss Grangeiro Belém aborda o tema Trabalho infantil esportivo e artístico: o sentido a partir da vivência.
Segundo ela, devido à rotina de trabalho, crianças e adolescentes atletas e artistas vão para a escola cansados ou mesmo diminuem e frequência escolar, por causa dos compromissos de trabalho.
“Como fica a socialização com os pares? Como essas crianças e adolescentes lidam com o afastamento dos amigos? O trabalho infantil esportivo e artístico ainda se encontra cercado de controvérsias tanto no que diz respeito a sua legalidade quanto com relação as suas implicações para o desenvolvimento de crianças e adolescentes”, diz na dissertação.
Kássia também afirma que ao se tratar dessas formas de trabalho infantil, os agentes públicos devem estar atentos ao limiar do desenvolvimento cultural e esportivo e da exploração nessas atividades, da não garantia do desenvolvimento integral da criança/adolescente, do malefício à sua saúde física e psicológica, da garantia da convivência familiar e comunitária e do prejuízo do acesso à escola.
Vítimas fatais
Arthur Vinicius, zagueiro, 14 anos
Athila Paixão, atacante, 14 anos
Bernardo Pisetta, goleiro, 15 anos.
Christian Esmério, goleiro, 15 anos
Gedson Santos, atacante, 14 anos
Jorge Eduardo, lateral-esquerdo, 15 anos
Pablo Henrique, zagueiro, 14 anos
Rykelmo de Souza Viana, volante, 16 anos
Samuel Thomas Rosa, lateral-direito, 15 anos
Vitor Isaías, atacante, 14 anos