18/08/2022|
Por Bruna Ribeiro
No início do segundo semestre de 2020, três estudantes do 9º ano da Escola Municipal Maria Dias Trindade, em Paripiranga, no interior da Bahia, observaram que alguns colegas estavam deixando as aulas.
Diante da crise do coronavírus, os motivos eram diversos: alguns estudantes não tinham acesso à tecnologia para as aulas remotas e, com o retorno presencial, outros dramas levaram à exclusão escolar, como bullying, trabalho infantil e gravidez precoce.
As histórias motivaram a criação do projeto Raízes do Meu Sertão, que visa combater a exclusão escolar, com orientação do professor de Língua Portuguesa José Souza dos Santos.
No projeto Raízes do Meu Sertão, estudantes utilizam diversos recursos, como ligações telefônicas, redes sociais e mensagens, para chamarem colegas de volta à escola. Além disso, foi criada uma página nas redes sociais para troca de informações e até compartilhamento dos conteúdos das aulas.
A iniciativa viralizou e hoje inspira outras escolas na busca ativa de crianças e adolescentes que não retornaram mesmo após a reabertura das instituições de ensino.
Conheça o passo a passo da metodologia Raízes do Meu Sertão:
- Uma lista com os nomes e contatos dos estudantes evadidos foi disponibilizada pela coordenação da escola às adolescentes.
- As jovens entraram em contato com os colegas, por meio de ligações telefônicas, redes sociais e mensagens, perguntando como estavam e o que seria necessário para que voltassem a estudar.
- Foram revelados diversos contextos de vulnerabilidade social, como trabalho infantil, gravidez na adolescência, falta de recursos para acessar as aulas online e bullying.
- As idealizadoras do projeto conversavam sobre a importância da escola e ajudavam a pensar em estratégias para garantir o acesso à aprendizagem e organizar uma rotina de estudos de acordo com os desafios de cada colega.
- Para facilitar a comunicação, foi criado o perfil no Instagram Vamos Conversar.
- Por meio da plataforma, as garotas organizaram uma série de lives falando sobre a importância da escola, atingindo estudantes de todo município.
- No canal, o trio sugere atividades, como pegar um livro na biblioteca. Além disso, fazem até podcasts para os amigos ouvirem a aula que perderam no dia, contagiando os colegas.
- Confira o Instagram Vamos Conversar neste link.
Casos reais
Alice Suelen Santana, uma das idealizadoras do projeto, conta que o trio via muitos colegas deixando a escola e que isso se tornou realmente um problema.
Emilly Bárbara Gonçalves, que também ajudou a criar a iniciativa, acredita que a proximidade de idade facilita a conversa.
Um dos casos relatados por Mariana Menezes, outra cofundadora do Raízes do Meu Sertão,é de um colega desistiu de estudar por ter 16 anos e estar no 5º ano do Ensino Fundamental e sofrer bullying por conta disso.
Como solução, foi incentivado o diálogo entre a turma, além da realização de uma palestra organizada pelas próprias estudantes. Hoje o garoto voltou para a escola e está no 7º ano.
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Embora o trio já tenha saído da escola, o professor José Souza diz que a gestão deu continuidade às ações, porque o engajamento das idealizadoras motivou outros alunos, além da prática ser um importante exercício da cidadania e do pensamento crítico”, afirma