17/05/2017|
“Meu pai costuma dizer que sou o orgulho dele.”
Quem diz isso é o jovem Felipe Caetano, de 15 anos. Com uma risada tímida, também garante que a mãe não fica atrás quando o tema é apoiar suas grandes ações.
E quem o conhece também já aplaude.
O jovem morador de Aquiraz, município de quase 80 mil habitantes no litoral do Ceará, não passa despercebido pela cidade. Tampouco pelos encontros sobre os direitos da infância e da adolescência.
Hoje, aos 15 anos, Felipe traz na bagagem quatro anos de participação em debates, conferências e rodas de conversa sobre os malefícios do trabalho infantil. Aos 11, já ouvia com cuidado o discurso dos palestrantes que lhe mostravam a importância dos direitos humanos. “Ainda tinha 11 anos quando me perguntei: como posso fazer a diferença na vida dos jovens aqui no Ceará?”
A resposta veio em dois momentos. O primeiro, ao ler um pensamento de Gandhi, indiano reconhecido como grande líder da paz mundial, no qual o jovem atuante se inspira: “seja a mudança que você quer ver no mundo”.
O segundo foi o encontro com o procurador Antonio de Oliveira Lima, do Ministério Público do Trabalho do Ceará (MPT-CE). Ao participar das oficinas oferecidas pelo projeto MPT na Escola, Felipe conheceu o Estatuto da Criança e da Adolescente (ECA) e decidiu arregaçar as mangas para representar outros meninos e meninas da sua idade interessados em “transformar o futuro da juventude”.
O adolescente, então, bateu à porta do procurador para perguntar como poderia, efetivamente, atuar e levar a voz de seus pares para os adultos.
O encontro rendeu a criação do Comitê de Adolescentes na Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Canpeti), estruturado para ser um grande fórum de debates. Atualmente, o grupo é formado por 40 jovens do Ceará.
Na minha opinião, a participação da juventude é urgente. A partir do momento em que o jovem decide fazer parte da criação e implementação de políticas públicas, ele se torna conhecedor dos seus direitos e passa a reivindicar por eles.”
Fazendo a diferença
No Núcleo de Cidadania dos Adolescentes (NUCA), um projeto do selo Unicef ativo entre 2013 e 2016, Felipe também colocou em prática a ideia de debater direitos humanos com outros jovens.
Por conta do sucesso com os jovens, o núcleo se tornou uma família para nós. Decidimos continuar fortalecendo essa rede de participação. Nós temos casos de pessoas que saíram do mundo das drogas por conta das conversas que eram realizadas naquele espaço.”
Mesmo com o fim “administrativo” do NUCA, a juventude da região se mantém reunida, garante Felipe:
Levantamos essa bandeira de participação e debate para a roda de conversa dos adolescentes. Isso é sensacional! Veja só: antes, eu sentia uma limitação. Sentia que os próprios jovens não estavam querendo falar sobre direitos que são deles e que eles precisam garantir.”
Trabalho infantil no Ceará
Quando fala sobre trabalho infantil, Felipe demostra a garra e o entusiasmo necessários em mudar o rumo dessa triste realidade. Para ele, ainda que o trabalho precoce tenha sofrido uma redução no estado do Ceará (em 2015 o índice de crianças e adolescentes em situação de trabalho caiu em 49%), buscar alternativas, trabalhar em novas políticas públicas e levar informação para dentro das escolas é fundamental.
Nós tivemos uma grande redução nos números. Isso me enche de orgulho. Mas o meu maior sonho é erradicar de uma vez isso da vida das crianças e jovens de todo o mundo.”
Na mira de Felipe, está, além dos estudos, mobilização para reunir toda a comunidade para debater a urgência de dizer chega de trabalho infantil. Inclusive, com os integrantes Comitê de Adolescentes na Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (Canpeti), já sistematizam novos planos que possam incindir em políticas públicas. E a militância não sai de seu horizonte:
A erradicação do trabalho de crianças só vai acontecer quando toda a sociedade se conscientizar. Não vamos nos calar!”