publicado dia 17/04/2020
17/04/2020|
Por Redação
Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) emitiu a recomendação de que todos deveriam ficar em casa para que a propagação do COVID-19 pudesse ser amenizada, eu, que coordeno uma rede de cursinhos populares nas periferias de São Paulo, fiquei apreensiva! Como as famílias dos nossos alunos conseguiriam seguir tal recomendação? Como os que “que vendem o almoço para pagar a janta”, os que trabalham na informalidade e que ganham a vida “fazendo bicos” poderiam ficar em casa? Como ficariam aqueles que nem casa têm? Pensando nisso, organizamos centenas de jovens e decidimos iniciar uma rede de solidariedade. Solidariedade Pra Mudar SP Contra o Coronavírus.
O vídeo de lançamento foi feito com a ajuda de artistas, e este apoio, das chamadas personalidades, tem sido essencial para potencializar nossa rede. Organizamos um site, e, disponibilizamos um número de WhatsApp para coletar doações. A lógica é conseguir conectar quem quer, e pode ajudar, com quem precisa de doações. A distribuição do que é arrecadado, é feita por instituições sérias, e nossos voluntários vão até a porta dessas instituições em todos os cantos da cidade.
Quando tudo isso começou, eu já esperava me deparar com uma realidade dura, das pessoas em situação de vulnerabilidade. Esperava me deparar com pessoas angustiadas e sem saber como colocariam comida na mesa de suas famílias, afinal, essa é a incerteza que os trabalhadores informais enfrentam. O sucesso da nossa rede fez com que eu me deparasse com uma demanda muito grande de pessoas que precisam de ajuda. De famílias, de crianças… Mas confesso que eu não esperava ser confrontada pela realidade do que é o trabalho infantil. Um trabalho que não é apenas informal, é também, ilegal e invisível.
A rede de solidariedade nos colocou para pensar nas crianças em situação de mendicância, nas crianças e adolescentes que faziam as suas principais refeições na escola. Nas crianças que vendem doces na saída do metrô, pano de prato na praça da Sé, balas nas filas das baladas. Fomos atropelados pela questão do trabalho infantil. Afinal essas crianças e adolescentes levam diariamente algum dinheiro para casa, complementam a renda das suas famílias com um tipo de exploração que não deveria existir. Pensando em tudo isso, a primeira coisa que fizemos foi incluir na lista de instituições parceiras entidades que atuam em prol da garantia dos direitos humanos de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social, como o CEDECA – SÉ, e o CCA Batista, em Vila Pompéia.
Além disso, entendendo que grande parte das crianças e adolescentes da cidade de São Paulo que estão em situação de trabalho infantil também frequentam a escola, estamos lançando em parceria com o ATADOS uma iniciativa que irá ajudar a garantir o direito à alimentação de jovens e crianças que dependem da merenda escolar, mas que não podem acessá-la neste momento de escolas fechadas.
O Governo do Estado anunciou o programa “Merenda em Casa” que disponibiliza um valor financeiro por estudante para as famílias realizarem a compra de alimentos. São beneficiados os estudantes cujas famílias recebem o Bolsa Família, bem como aqueles que vivem em condição de extrema pobreza, de acordo com o Cadastro Único do Governo Federal.
Pensando na dificuldade desse público em ter acesso à internet, ou, no caso de muitas famílias não atenderem aos critérios de seleção do Cadastro Único, decidimos realizar uma parceria com as Escolas Públicas de São Paulo, para que esta rede possa nos ajudar a encontrar esses estudantes que precisam da nossa ajuda.
A nossa rede de solidariedade cresce a cada dia, no entanto, a demanda cresce também. Neste momento todos que podem ajudar, devem ajudar! A única coisa que devemos viralizar neste momento é a solidariedade!