publicado dia 05/02/2018

Do urro à palavra escrita: a origem da narrativa humana

por Christine Castilho Fontelles

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05/02/2018|

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Hoje o assunto é tecnologia.

Tecnologia é, com certeza, uma das palavras mais faladas, lidas, escritas e ouvidas dos últimos tempos. A palavra tecnologia tem origem no grego “tekhne” que significa “técnica, arte, ofício”, juntamente com o sufixo “logia” que significa “estudo”. Já a palavra PALAVRA é um termo proveniente do latim “parabola” que, por sua vez, vem do grego “parabolé”, podendo ser definido como um conjunto de sons de um idioma que expressam a ideia associada a ele.

Feche os olhos e imagine nosso ancestral mais mais distante… O primeiro hominídeo, o australopiteco, que teria vivido há cerca de 4 milhões de anos. Este parente distante emitia sons. Mas daí a falar vai uma longuíssima história, só possível graças a uma evolução muito sofisticada na fisiologia humana, envolvendo a morfologia das vias respiratórias e centros cerebrais.

Como a oralidade não deixou evidências cientificamente comprováveis, é quase impossível precisar o tempo entre a possibilidade de emitir urros até a voz articulada pelas palavras. Essa tecnologia, o falar, levou milhares de anos até atingir pleno êxito.

Bom, começamos como espécie, a articular palavras oralmente. Mais milhares de anos se passaram para adquirirmos a tecnologia da escrita.

Dia da Infância é comemorado em 24 de agosto, e a Rede Peteca fez uma lista de livros para celebrar a data

Crédito: Arquivo Agência Brasil

Crédito: EBC

Origens da escrita

As manifestações de escrita datam de 6 mil anos A.C. O poeta Manoel de Barros (1916-2014) escreveu, em seu livro Memórias inventadas, que “…Eu aprendera que as imagens pintadas com palavras eram para se ver de ouvir…”

A palavra escrita é o traço revelador das ideias, das intenções, dos assombros, das coisas, das paixões, dos medos, das alegrias, do que foi, do que é, do que virá a ser.

Cheios de palavras, experimentamos muitas e diversas tecnologias para registrar e expor nossas palavras.

  • Os suportes da escrita: osso, argila, pedra, linho, cera, pergaminho, papiro, papel.
  • Os recursos da escrita: as tintas, expositoras das palavras, dos pigmentos naturais aos industrializados.
  • Os instrumentos da escrita: os dedos das mãos, lascas de ossos, penas de aves, penas metálicas, canetas.


Até que chegou a
tecnologia que revolucionou o acesso aos livros: a prensa dos tipos móveis, da China até a Europa de Guttenberg, cuja invenção possibilitou a impressão em larguíssima escala, como nunca jamais visto antes. Estávamos, então, no século XV, quando a civilização era composta por esmagadora maioria de analfabetos. Segundo consta, apenas cinquenta anos após o feito de Gutenberg, 13 milhões de livros circulavam em uma Europa de 100 milhões de habitantes.

YouTubers mirins: Fórum Nacional discute nova modalidade de trabalho infantil. Crédito: Luce?lia Ribeiro/Creative Commons/Arquivo Agência Brasil

 Crédito: Luce?lia Ribeiro/Creative Commons/Arquivo Agência Brasil

O que a tecnologia da prensa móvel de Guttenberg promoveu foi a exponencial abrangência de partilha do texto escrito, além do fim do monopólio do latim para a comunicação escrita, cujo domínio estava basicamente circunscrito ao clero. Os textos passaram a ser escritos na língua vernacular – “vernáculo é o nome que se dá ao idioma próprio de um país, de uma nação ou região; é a língua nacional. Vernáculo é utilizado sempre para designar o idioma puro, utilizado tanto no falar, como no escrever; sem utilizar palavras de idiomas estrangeiros”. A prensa e a imprensa inauguraram, também, a ampliação das BIBLIOTECAS, e estas ampliaram ainda mais a abrangência do acesso aos livros.

Então a pergunta não é se precisamos de bibliotecas, mas de quais bibliotecas precisamos para promover uma jornada de formação leitora e escritora de qualidade para todos. Uma não vive sem a outra. E que esta jornada seja pautada por leituras formativas, com especial atenção à literária.

Crianças fazem leitura coletiva em escola. Crédito: EBC

Crédito: Arquivo EBC.

Como disse Pedro Bial em recente entrevista com Jô Soares: mais do que de fatos, precisamos do fabuloso. Precisamos profundamente de leituras de obras que transcendem o lugar e o senso comum, que nos põe a indagar a vida, que ampliam nossos horizontes de pensamento, para muito além das superficialidades que trafegam pelas mídias, que ativam a razão intelectual e a razão sensível: condição sine qua non para pensarmos e atuarmos em favor da vida digna e de qualidade para todos; promover o mínimo de dano e o máximo de bem.

Enquanto por aqui se discute interminavelmente a importância da leitura e da biblioteca… outros vão muito além: no distrito cultural de Binhai, em Tianjin, China, recentemente foi inaugurada uma biblioteca fantástica: denominada “O olho de Binhai”, cobre 34 mil metros quadrados e pode armazenar até 1,2 milhões de livros. Detalhe: IMPRESSOS. Lá, caminha-se entre livros, literalmente, livros à mão cheia, como queria Castro Alves.

Invista nas bibliotecas nas escolas!

Acredite: essa tecnologia chamada linguagem humana, aprimorada de geração em geração e que vem possibilitando o compartilhamento, propiciando a produção e partilha de novos conhecimentos, tecnologias e ficção, por meio da tecnologia palavra escrita, precisa de boas bibliotecas públicas, com especial destaque para as BIBLIOTECAS EM ESCOLAS, que é por onde circulam todos os dias crianças, jovens, professores, famílias, comunidades.

Para tal é fundamental que gestores públicos se responsabilizem em criar e manter esta política pública por meio de recursos públicos destinados à educação e cultura e recursos do orçamento dos municípios e estados, porque leis e direitos só saem do papel com empenho de orçamento, de outra forma são só “letra morta”, como se costuma dizer.

Para tal, o engajamento da sociedade civil, passando por mim e por você, é imprescindível, o que demanda de cada um de nós conhecer estes recursos, os caminhos concretos de incidência e a importância e responsabilidade que têm para efetivar Leis e direitos pelas mesmas razões: a gestão pública se mobiliza na medida em que grupos organizados de cidadãos atuam e cobram as políticas públicas.

A ação política não se faz só, sem constituição de coletivos, sem traçar uma rota de incidência e nem com pressa. A ação política é a dimensão da ação humana que concretiza nossos sonhos por um mundo melhor aqui e agora, no chão que a gente pisa.

No site da Campanha Eu Quero Minha Biblioteca, que atua pela universalização de bibliotecas em escolas (ausentes em 55% das escolas públicas, ou seja, mais de 80 mil escolas), você encontra boas orientações sobre como pode atuar em estreita interlocução com gestores da educação e com o poder público. Aliás, com o nascimento de um novo ano nasce também uma nova oportunidade para você atuar por bibliotecas em escolas no seu município:

  1. veja se no orçamento previsto para este ano há recursos destinados para bibliotecas em escola. Onde procurar: site/portal de transparência dos municípios, diário oficial, junto ao secretário de educação/prefeito
  2. para assegurar recursos para bibliotecas em escolas na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2019. Clique para conferir o passo a passo.  

Então, bora seguir a máxima de Castro Alves e atuar por bibliotecas à mão cheia: com boa infraestrutura, acervo diversificado e de qualidade e permanentemente renovado, bons profissionais formados para realizar bom atendimento e planejamento de leituras para públicos diversos. Faça isso hoje, porque amanhã já é futuro!

A importância do leitor literário desde a mais tenra idade

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