18/08/2022|
Por Bruna Ribeiro
Antes da pandemia, acontecia nas escolas estaduais de São Paulo a chamada Jornada X, uma gincana que mobilizava os estudantes a saírem pelo bairro procurando problemas que gostariam de resolver, como a revitalização de uma praça. Separados em times, eles eram desafiados a desenhar um plano de ação, conquistar aliados que possam ajudar na missão e, por fim, colocar as ideias em prática.
Foi usando essa metodologia que a EE Cidade de Hiroshima, em Itaquera, São Paulo (SP), começou a atrair de volta os alunos após a retomada das atividades presenciais no segundo semestre de 2021. Na época, metade de seus estudantes não retornaram.
Mas se a Jornada X propõe a solução de problemas, como será que a brincadeira foi utilizada para enfrentar a exclusão escolar? A missão dos times era conseguir a rematrícula, ganhando dois pontos por estudante que voltasse para a escola.
O resultado foi surpreendente e a metodologia levou 900 estudantes de volta para a escola. Antes disso, 240 dos 1713 estudantes tinham retornado. Após a Jornada X e antes do retorno obrigatório estipulado pela Secretaria Estadual, a escola já contava com a presença de 1158 estudantes.
O efeito foi celebrado pela comunidade escolar, pois as estratégias mais tradicionais, como a abordagem dos educadores e emissão de comunicados, não surtiam efeito. A experiência mostrou que o companheirismo entre os colegas favorece a aprendizagem e pode ser replicada por outras escolas, que ainda enfrentam os desafios do combate à exclusão escolar, mesmo após o retorno obrigatório.
Estratégia
Segundo Edgard Gouveia Júnior, presidente da Livelab, organização social sem fins lucrativos que criou a Jornada X e desenvolve e aplica tecnologias e estratégias de jogos colaborativos para a transformação social, a etapa final costumava acontecer durante um final de semana, com a participação da comunidade. Com a pandemia, a Jornada X foi adaptada para o ambiente virtual.
No início, foram mais de 3 mil inscritos na plataforma, mas depois o número decaiu. Para Edgard, todas as vulnerabilidades sociais geradas pela pandemia deixaram os estudantes e educadores desestimulados. E é justamente nesse contexto que surge a Gincana da Jornada X: “uma iniciativa para motivar os estudantes a voltarem para a escola”, explica Edgard.
Luan Souza do Nascimento, 17 anos, estudante do 2° ano do Ensino Médio da escola e um dos organizadores das atividades, conta que a gincana incentivou a interação entre alunos, o grêmio e a gestão da escola.
Como funciona a metodologia
- Os estudantes se organizam em times para concorrerem na gincana Jornada X. Cada integrante ganha um ponto por aceitar participar.
- Nessa edição em específico, o objetivo era enfrentar a exclusão escolar e promover a (re)matrícula dos estudantes que estavam fora da escola.
- O time ganha dois pontos por criança ou adolescente (re)matriculado.
- Para atingir o objetivo, durante um mês, os participantes entraram em contato com os colegas evadidos da escola e planejaram um dia de atividades e brincadeiras, como concurso de música, culinária, horta e grafite no muro da escola.
- Os estudantes que não estavam frequentando a escola se encontraram com os professores e os colegas no dia da festa. Felizes em rever todo mundo, se rematricularam.
- Para realizar a gincana Jornada X na sua escola, escreva para [email protected]. Conheça também o site da iniciativa neste link.