14/06/2017|
A cena é tocante: ao lado do pai, um garoto também trabalha carregando barras de carvão. O cenário sombrio, registrado no filme “Menino de Carvão”, ainda faz parte de uma triste realidade para crianças e famílias em situação de trabalho análogo à escravidão.
E em um país como o Brasil, onde 2,6 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos enfrentam o trabalho precoce, discutir alternativas para a erradicação é urgente.
Essa foi a pauta do Encontro Nossas Crianças, realizado pela Fundação Abrinq. No mês em que a temática do trabalho infantil é trazida à tona por causa da efeméride do 12 de junho, Dia Mundial Contra o Trabalho Infantil, o evento, realizado na quinta-feira, 7, reuniu 30 representantes das instituições que integram o Programa Nossas Crianças, no auditório da Faculdade FMU, em São Paulo.
Convidada especial da palestra, a procuradora Elisiane Santos, do Ministério Público do Trabalho (MPT-SP), propôs a discussão justamente por meio de trechos de filmes. Não demorou para que as dúvidas, tão comuns nessa temática, viessem à tona:
“Como posso ajudar uma mãe ou um pai que acredita que o filho deve trabalhar?”
“O que está em jogo quando a questão é o sustento da família?”
Atenciosa, Elisiane não deixou de responder nenhuma pergunta.
“O interessante de participar de eventos como este é que você conhece as dúvidas de perto, entende as limitações de informação e do trabalho de alguns profissionais da rede e o que ainda falta para que ajudem, de maneira mais efetiva, no combate a exploração infantil”, afirma a procuradora.
Encontros mensais
O encontro, realizado mensalmente pela Abrinq, mantém o foco nos direitos da infância. “Nós temos a rede Nossas Crianças e sempre nos reunimos para saber sobre qual assunto vamos tratar nas reuniões. Além disso, aproveitamos as datas, como o 12 de junho, para trazer assuntos para a conversa”, diz Andreia Lavelli, oficial de programas e projetos da Fundação Abrinq.
Para Andreia, a reunião é valiosa ao agregar conhecimento e valores importantes, além de incentivar e conscientizar a platéia – que, por vezes, sai da sala emocionada com a reflexão oferecida.
Nesta mesa do dia 7, entre os participantes estava Elisangela Pires, agente educacional da Associação Evangélica Beneficente. Seu trabalho envolve diretamente o contato com crianças e adolescentes de 6 a 15 anos. Ela contou à reportagem da Rede Peteca:
“Eu e meus colegas levamos aos meninos e meninos diversos temas: violência, preconceito, falamos sobre direitos. E, recentemente, começamos a falar sobre trabalho infantil. Mostrei vídeos sobre o trabalho doméstico e contei a eles sobre a necessidade de ser criança, de brincar e estudar”, diz.
“Explico não só para as crianças, mas para os pais também, que precisamos olhar o outro ali – seja no farol ou em outro tipo de trabalho –, e entender que aquilo não é bacana, aquilo não é certo. Precisamos mudar essa realidade. Por isso todo debate que tivemos hoje será muito importante daqui para frente”, acredita a agente educacional.
Um debate intersetorial
A Webconferência Diálogos Intersetoriais, intitulada “Ações estratégicas para a erradicação do trabalho infantil e proteção ao adolescente trabalhador”, também aconteceu no dia 7 de junho, em outro endereço de São Paulo.
Organizada pela Coordenação Estadual de Saúde do Trabalhador, a roda de conversa contou com a presença de representantes do Ministério Público do Trabalho, da Secretaria de Desenvolvimento Social, Secretaria de Estado de Justiça e da Secretaria do Emprego e Relações de Trabalho.
Como a exploração infantil está interligada à área da saúde? Ao longo da webconferência, foram analisados dados sobre acidentes com crianças e jovens trabalhadores.
“A intersetorialidade, ou seja, a união de vários setores como saúde, educação e outros, é fundamental”, assegura Simone Alves dos Santos, coordenadora estadual de Saúde do Trabalhador do Centro de Vigilância Sanitária.
“Quando você identifica uma criança ou adolescente em situação de trabalho, ele precisa ser afastado daquele ambiente. Contudo, isso não pode ser feito de qualquer maneira. É necessário garantir os direitos da família”, conclui Simone.