Projeto Guri: a música que transforma a vida de jovens

WhatsappG+TwitterFacebookCurtir

29/12/2016|

Por

“Não se trata de apenas cantar, tocar um instrumento e sim,  trabalhar em conjunto e saber que não sou melhor do que ninguém. (…) Música expressa o que não pode ser dito em palavras, mas não pode permanecer em silêncio. É a arte de manifestar os diversos afetos de nossa alma mediante o som (…) Foi onde eu descobri a paixão pela música e decidi o que eu quero para minha vida. Foi lá que os meus sonhos começaram a crescer. Eu sonho bastante e muito alto, mas creio que nenhum deles são impossíveis de se realizar. Basta ter garra, força de vontade e o principal, ter fé.”
Estela Prado Santos

A música é uma das mais antigas e poderosas formas de expressão da humanidade. Defini-la vai muito além de explicações teóricas ou conceitos técnicos, uma vez que é capaz de transformar vidas.

No campo da educação, a música também é utilizada como uma ferramenta pedagógica de grande valor, que contribui diretamente no desenvolvimento integral de meninos e meninas, como estabelece o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O depoimento no início do texto, de uma das alunas do Projeto Guri, reflete bem a importância do papel da música na formação de pessoas, na melhoria no convívio social e na realização de sonhos.

Assim como Estela, cerca de 35 mil alunos beneficiam-se anualmente do Projeto Guri. Uma iniciativa do Governo do Estado de São Paulo que proporciona educação musical gratuita para crianças de 6 a 18 anos por meio de parcerias e apoios de prefeituras, entidades, empresas e pessoas físicas desde 1997.

Alunos do Projeto Guri. Crédito: Gustavo Morita

Alunos do Projeto Guri. Crédito: Gustavo Morita

Atualmente, o Projeto Guri está presente em mais de 300 municípios localizados no interior e no litoral do estado de São Paulo. Entre os cerca de 35 mil alunos, há jovens que, além de estudar um instrumento musical, também participam das aulas de canto coral.

A premissa do “fazer musical coletivo” é a base desse Projeto, que integra em uma mesma turma crianças e adolescentes de diferentes idades, gêneros, condições sociais, econômicas ou físicas, promovendo igualdade de acesso aos que sonham em aprender a tocar um instrumento, seguir uma carreira profissional ou simplesmente fazer da música uma forma de sentir-se parte de um propósito que tenha sentido em sua vida.

“Só por estarem juntos os alunos já aprendem uma série de questões sobre valores humanos como socialização, disciplina, respeito às diferenças, inclusão e apoio mútuo. Além disso, o próprio ato de fazer música é algo divertido, que gera confiança, amizade e contribui para o desenvolvimento motor, cognitivo e afetivo destes alunos”, explica Fabíola Formicola, a Gerente de Desenvolvimento Social do Projeto Guri.

Um destes aprendizados mais valiosos e que hoje configura como umas das diretrizes do Projeto é a questão da diversidade de gênero e equidade. Nos Grupos de Referência, por exemplo, voltados para um nível mais avançado de educação musical, o critério de avaliação é o talento. Entretanto, em caso de empate técnico no processo seletivo entre um menino e uma menina, as mulheres têm prioridade na vaga.

“Hoje ainda há poucas mulheres no papel de liderança dentro da música, poucas maestrinas, regentes ou percussionistas. Então, passamos a observar com mais atenção qual caminho estas meninas estavam seguindo dentro da música e se a decisão havia sido uma escolha delas. Ter esse olhar é importante, principalmente pelo viés pedagógico, porque promove uma mudança de visão e traz para o debate a questão de gêneros, sem desvalorizar o trabalho dos meninos,” comenta Fabíola.

A música que liberta

Um ambiente de contenção, fechado e repleto de seguranças onde adolescentes e jovens de 12 a 21 anos vivem cercados de proteção e em constante estado de alerta. O clima tenso faz parte do cotidiano dos jovens que estão em cumprimento de medidas socioeducativas nos diversos centros de internação longa ou provisória da Fundação Casa.

Neste cenário, as oficinas musicais promovidas pelo Projeto Guri, há 21 anos, dentro dos polos da Fundação, contribuem para a ressocialização destes jovens e promovem uma inclusão sociocultural por meio do ensino da música.

“Para eles é um momento de libertação. Quando se sentem capazes de produzir algo, trazer os ritmos que mais gostam, criar letras de músicas ou ficarem à vontade para refletir sobre a vida e a condição de estarem ali”, diz a gerente do Projeto Guri.

Mais do que promover o ensinamento musical de forma coletiva, o trabalho realizado na Fundação Casa conta com formatos e um pensar pedagógico diferenciados. A iniciativa atua alinhada com o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente e foca no desenvolvimento humano dos jovens que se encontram em situação de risco.

Alunos do Projeto Guri. Crédito: Gustavo Morita

Crédito: Gustavo Morita

A pouca quantidade de polos para mulheres em comparação aos centros masculinos (de 58 centros de atendimento, apenas qautro são destinados ao público feminino) também recebe atenção especial. Todas as gestantes ou mães acolhidas pelo Programa de Atendimento Materno-Infantil (PAMI) participam de oficinas de musicalização que ensina cantigas de roda, músicas de ninar e realizam exercícios lúdicos com o intuito de promover uma maior sensibilização e fortalecimento do vínculo materno.

A música que acolhe

Seja para jovens dentro das instituições, seja para alunos matriculados em uma escola ou ainda para aqueles que estão seguindo uma carreira profissional, Fabíola ressalta que a essência do Projeto Guri não muda: acolher crianças e jovens coletivamente e fazer da música uma ferramenta igualitária, que permita aos alunos desenvolverem o potencial existente em cada um.

“É difícil explicar a importância da música porque ela emociona, acima de tudo. É uma linguagem que fala sobre sentimentos e que além contribuir com o desenvolvimento de crianças e jovens em diversos aspectos, acaba sendo um momento de catarse emocional”, conclui Fabíola.

Alunos do Projeto Guri. Crédito: Gustavo Morita

Crédito: Gustavo Morita

Crédito: Crédito: Gustavo Morita

Não por acaso, a missão do Projeto Guri é ser referência na música e na vida. Para estas crianças e adolescentes, estar em contato com a música é poder descobrir a beleza do som que vem do outro e, principalmente, de si próprias.

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.