18/08/2022|
Por Bruna Ribeiro
O município de Marabá (PA) já atuava na identificação de casos de crianças e adolescentes que estavam longe da escola mesmo antes da pandemia do coronavírus. Mas em novembro de 2020, ganhou reforços com o projeto Territórios em Rede, uma iniciativa da Fundação Vale, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Marabá e a Associação Cidade Escola Aprendiz.
O projeto de busca ativa escolar visa atender os alunos excluídos da escola, com o início do ensino remoto e posteriormente com a crise humanitária causada pela pandemia. As ações ocorrem até os dias de hoje – em uma batalha de enfrentamento à exclusão escolar que ainda não terminou. Para isso, é realizado o mapeamento das crianças que estão fora da escola, o contato mais próximo com as famílias e o retorno dos estudantes às escolas.
De acordo com Fábio Rogério Rodrigues Gomes, diretor de Ensino Urbano da Secretaria de Educação de Marabá, foram reunidos representantes das secretarias de Saúde, Assistência Social e Educação, visando encontrar soluções e caminhos conjuntos junto à equipe de busca ativa.
Concordando com a importância da intersetorialidade das políticas públicas, Fernanda Fingerl, gerente de Novas Metodologias e Inovação Social da Fundação Vale, entende que existe uma longa e complexa história que leva à evasão escolar. “Uma criança que não está frequentando a escola é o capítulo final. Precisamos olhar para antes disso”.
Segundo ela, o enfrentamento à exclusão escolar passa pela compreensão e solução da diversidade de problemas sociais que impactam uma família. “Só assim é possível pensar na permanência das crianças na escola”, complementa.
Trabalho infantil e outras vulnerabilidades
Dificuldade de acesso à tecnologia, durante o ensino remoto, foi um dos motivos que impediu as crianças de estudarem. Além disso, a equipe observou situações de trabalho infantil, violência doméstica e o luto. Com a reabertura das escolas, nem todos retornaram. Para Fernanda, quanto mais tempo longe da escola, menor a chance da criança voltar.
“Precisamos assumir que uma criança fora da escola tem seu direito à educação violado. Garantir esse direito tem a ver com assegurar a qualidade da educação que é ofertada”, diz.
Conheça mais sobre Territórios em Rede em Marabá
- Marabá conta com cerca de 200 escolas e 50 mil estudantes. A equipe interdisciplinar é composta por dez profissionais, que hoje atende em torno de 350 famílias.
- Os articuladores locais contam com informação das secretarias Municipal e Estadual de Educação. A equipe também circula pelos territórios, observando e conversando com moradores, para identificar crianças afastadas da escola.
- Para conseguir entrar em contato com as famílias, os articuladores tentam, em primeiro lugar, uma visita domiciliar, porque é importante um contato presencial, para dar início à conversa.
- Se o endereço está errado ou mudou, são utilizados contatos por telefone e Whatsapp, visando encontrar o novo endereço.
- Em algumas situações, não há registro da criança ou adolescente na rede escolar. Nesses casos, a equipe conta com a colaboração de instituições locais, vizinhos, o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), equipamentos de Saúde, associações de moradores e projetos sociais.
- Quando é identificada uma criança ou um adolescente fora da escola, é realizada uma entrevista inicial com o responsável, preenchendo uma ficha de cadastro. É realizado o acompanhamento periódico das famílias e, se houver necessidade, são feitos encaminhamentos para acesso a outros serviços, como atividades no contraturno escolar, para garantir condições de retorno à escola.