01/11/2018|
Por Bruna Ribeiro
Na segunda (29), Ana Paula Galdeano e Paulo Malvasi lançaram o livro “Tráfico de drogas entre as Piores Formas de Trabalho Infantil: mercados, famílias e redes de proteção social”, durante a Reunião Plenária do Fórum Paulista de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FPPETI).
Durante o encontro, a dupla apresentou os principais resultados de uma pesquisa, do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento – CEBRAP, coordenada por Ana Paula e Ronaldo Almeida. No final, houve um debate com os participantes – em sua maioria profissionais da rede de proteção, que compartilharam suas experiências na prática.
Segundo a pesquisadora, o trabalho infantil no tráfico de drogas é praticado por adolescentes de famílias em vulnerabilidade social que moram nos locais mais precários dentro dos territórios que marcados pela suburbanização. De acordo com a Convenção 182, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o tráfico de drogas é uma das piores formas de trabalho infantil.
Ao todo, são 93 piores formas, entre elas o trabalho no campo, doméstico, comércio ambulante, serviço de office boy, construção civil, entre outras. São atividades que mais oferecem risco à saúde, ao desenvolvimento e à moral das crianças e dos adolescentes.
“O tráfico de drogas é a segunda maior causa de internação de adolescentes. Isso é fruto da nossa política nacional de drogas, que está encarcerando quem apenas passa a droga ou até mesmo usuários, quando na verdade eles são vítimas. É importante ressaltar ao Judiciário que não é nosso desejo que o adolescente saia do mercado de trabalho exploratório do tráfico e vá para o mercado informal, igualmente exploratório”
Relações familiares
Ainda segundo a pesquisadora, os jovens encontram no tráfico de drogas a possibilidade de conquista de autonomia. “Vemos situações em que, além dos pais, o irmão está preso e outros familiares também. A Elisa, por exemplo, tem três irmãos presos, um cunhado e um padrasto. No caso do Antônio, além do pai, da mãe e da tia estarem presos, ele teve dois primos assassinados. São dessas coisas que estamos falando.”
Atendimento
Durante a apresentação, Ana ressaltou a dificuldade de intersetorialidade no Sistema de Garantia de Direitos, o que interfere diretamente no atendimento dos adolescentes em medida socioeducativa. “Não há integração entre as secretarias e muitas vezes a oferta de serviços não é suficiente.”
Segundo Ana, muitas vezes a escola não está preparada para acolher o aluno egresso da medida socioeducativa, sendo comum que ele seja rotulado como “aluno em LA” (aluno em liberdade assistida).
“Quando a escola tem um problema com o adolescente, ela mesma chama a polícia. Mas sabemos que não é essa a solução. Já no sistema de saúde, muitas vezes não há atendimento focado nos adolescentes dependentes químicos. Essa desarticulação é muito prejudicial.”
Questão de gênero no trabalho infantil no tráfico
Segundo o pesquisador Paulo Malvasi, embora as meninas ainda sejam minoria no tráfico de drogas, a participação delas vem crescendo. Por se envolverem em menos brigas físicas e conflitos e também por abusarem menos do uso de drogas, existe um certo interesse em que elas fiquem na gerência, pois colocam os negócios menos em risco.
Oferta de alternativas
Para Malvasi, é preciso oferecer alternativas para que o adolescente saia do tráfico de drogas, mas há poucas soluções de profissionalização. “O grande desafio é justamente encontrar essas portas de saída”, disse.
Segundo ele, ao mesmo tempo em que é preciso fortalecer o vínculo do jovem com o seu território e oferecer trabalho, também é um desafio incentivar que ele circule pela cidade e amplie suas possibilidades. “Não são caminhos excludentes e cada um tem seus dilemas.”