publicado dia 23/03/2021

Conhecendo África nas aulas de educação física

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23/03/2021|

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A professora Suzi Dornelas, da rede de ensino de Bauru (SP), trabalha a cultura africana e afro-brasileiras com os alunos

Por Diel Santos

Crédito: Divulgação

Em muitas escolas brasileiras é comum que estudantes esperem ansiosamente pelas aulas de Educação Física, já que poderão jogar bola ou vôlei na quadra. Esse componente curricular, entretanto, tem um escopo mais amplo e permite trabalhar as práticas corporais e outros conhecimentos de forma mais integrada. As brincadeiras realizadas no Ensino Fundamental, por exemplo, devem vir com intencionalidade, focando no desenvolvimento integral dos estudantes. Foi isso que fez Suzi Dornelas ao trabalhar as culturas africanas e afro-brasileiras na sala de aula e na quadra. 

A professora dá aulas de Educação Física para o 5º ano da Escola Estadual Professor José Ranieri, em Bauru (SP). Lá, desenvolveu o projeto pedagógico Viajando pela Cultura Africana. Criado em 2019, a iniciativa trabalha com as crianças aspectos históricos, culturais e geográficos do Continente Africano e as influências na cultura brasileira. O projeto rendeu o prêmio de Prêmio Educador Nota 10 para a Suzi.

“Desenvolvi junto com os alunos atividades que os ajudavam a compreender o continente. As crianças aprenderam sobre a diversidade da região, com 54 países, sobre diferenças entre eles e a localização”, explica.  

O projeto foi estruturado, também, a partir da Lei federal 10.639/03. A regra promoveu mudanças na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que tornaram obrigatório o ensino das histórias e culturas africana e afro-brasileira nas escolas de educação básica das redes pública e privada do Brasil.

Na prática

O projeto Viajando pela Cultura Africana trabalha a experimentação de práticas corporais de matriz africana. Cada aula era um novo convite para conhecer aspectos significativos e importantes de algum país daquele continente. “Os estudantes eram apresentados a elementos históricos, geográficos, culturais, sempre levando em conta o processo individual de aprendizagem de cada um durante esses momentos”, explica Suzi. 

Após as aulas teóricas, os alunos iam para quadra onde participavam de brincadeiras lúdicas que ajudavam a consolidar aquilo que haviam descobertos em sala. No final de cada atividade, as crianças eram convidadas a refletir juntas sobre os aprendizados daquele dia. “Ao falar sobre essas experiências eles praticam ainda mais o diálogo, além de fortalecerem o protagonismo e a autonomia”, diz.

Um elemento importante inserido por Suzi foi um caderno, dado a cada aluno, para que fossem registrando o que achavam das experiências vividas. O diário de bordo dos estudantes contavam com desenhos, explicações sobre os jogos, brincadeiras e características dos países. Além disso tudo, a professora conta que eles fizeram uma pequena autobiografia e um autorretrato. 

Diálogo com os alunos, mediadores do próprio aprendizado

“Todas as anotações que eles faziam no caderno eram livres. Meu papel com eles foi, apenas, de mediação. Cada momento de diálogo rendia novas percepção sobre o que a turma aprendia’, diz Suzi. 

Os conhecimentos construídos durante o projeto Viajando pela Cultura Africana não ficaram restritos às linhas da quadra, tampouco aos muros da escola. A professora conta que os alunos passaram a compartilhar os aprendizados em casa com as famílias. “Os estudantes traziam para a escola as informações dos seus contextos familiares para a nossa sala”, conta. 

Crédito: Divulgação

As aulas de Educação Física tornaram-se momentos de ampliação das práticas corporais a partir das matrizes africanas, mas também de conversas sobre as individualidades de cada estudantes e suas ascendências.

A cada dia, novos conhecimentos eram compartilhados pelos alunos e a professora. O envolvimento e interesse dos jovens foi tanto que surgiu a ideia de realizar um festival para que a turma convidasse os familiares para a escola. “A participação foi enorme. As famílias passaram a perceber a riqueza dos processos educativos e se envolveram ainda mais no nosso projeto”, conta Suzi. 

O festival foi pensado para complementar os aprendizados que os alunos vinham construindo, além de promover ainda mais a integração com as famílias. Alunos e famílias ajudaram no evento, que apresentou a diversidade cultural africana e as influências na cultura brasileira. 

Envolvimentos de outras disciplinas

As atividades do projeto Viajando pela Cultura Africana contou com a participação de outras disciplinas da escola. “Além do projeto ter sido trabalhado nas aulas de Educação Física, foi possível atingir outros componentes curriculares como História, Geografia e Língua Portuguesa”, explica Suzi Dornelas.

Crédito: Divulgação

Além do trabalho relacionado às práticas corporais, atividades sobre artes, cultura, leituras de músicas e poemas também foram realizadas com ajuda da equipe pedagógica da escola. A professora avalia que essa integração com outros conteúdos foi significativa para a aprendizagem dos estudantes sobre as culturas africanas e afro-brasileira.

Uma das mudanças importantes que a educadora aponta nos alunos é em relação ao comportamento. “Eles construíram e entenderam a importância do respeito pelas diferenças, por um posicionamento combativo frente a situações preconceituosas, racistas e de bullying. Todos os resultados foram além do que esperávamos em relação ao projeto”, finaliza Suzi. 

Futuro do projeto

Desde 2020, com a necessidade do ensino a distância devido a pandemia do coronavírus, a professora conta que não foi possível realizar as atividades da mesma forma. No entanto, quando as aulas presenciais em segurança foram possíveis, Suzi pretende levar o projeto para turmas de outras etapas de ensino. 

“Minha intenção é recriá-lo em outras realidades, inclusive nos outros ciclos do Ensino Fundamental e, até mesmo, no Ensino Médio. A ideia é perceber como essas atividades podem reverberar em outras turmas. Além disso, gostaria de ampliar essas ações e experiências com outros educadores, ajudando a desenvolver juntos uma educação antirracista e fortalecer uma educação para as relações étinico-raciais”, finaliza. 

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