13/06/2018|
Por Redação
Atualizado em 22 de junho, às 13h
Na data que marca o Dia Mundial de Combate ao Trabalho Infantil, terça-feira (12), a Rede Peteca, em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) e a Cabify, e com apoio da Sociedade Amigos da Vila Madalena (Savima), promoveu o lançamento oficial da campanha Copa Sem Trabalho Infantil.
Ao longo de todo o dia, foram realizadas atividades para sensibilizar clientes e funcionários de estabelecimentos de regiões boêmias de São Paulo, como Vila Madalena, na Zona Oeste, e Vila Olímpia, na Zona Sul, e todos os pontos da cidade com concentração de bares e de púbico para assistir aos jogos da Copa.
Distribuição de folhetos
Orientadores sociais da Prefeitura de São Paulo distribuíram cartazes em bares e no comércio em geral. Também fizeram panfletagem de flyers para clientes dos estabelecimentos, com informações a respeito do trabalho infantil e sobre como ajudar: enviando informações pelo Canal 156, para quem está na capital paulista, ou para o Disque 100, para das demais cidades do Brasil.
Busca Ativa
A campanha, que se estenderá até o final da Copa do Mundo (em 14 de julho), ainda abrange um reforço na busca ativa já realizada diariamente pelos orientadores sociais da prefeitura. Eles são os responsáveis por identificar e encaminhar crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil ao Serviços Especializados de Assistência Social (Seas), de acordo com o endereço de origem da família.
Na Avenida M’Boi Mirim, distrito do Jardim Ângela, com os piores índices de trabalho infantil da cidade, o marceneiro Franscisco Alves, de 53 anos, aproveitava a vitória do Brasil sobre a Costa Rica para comemorar em um bar na hora do almoço. Ele disse que não sabia como denunciar o trabalho infantil, mas mostrou disposição em mudar de hábito após receber um flyer informativo de orientadores sociais.
“A gente vê direto os meninos mais novos pegando ônibus pra vender bala, vender paninho. Eu mesmo já dei dinheiro. Vou tentar ligar pra Prefeitura da próxima vez “, disse ele, após conhecer o canal 156.
Estabelecimentos de regiões como a Vila Madalena também reconheceram a importância da campanha e abriram suas portas para receber orientações e também para colaborar com a distribuição de materiais.
Um desses comércios foi a padaria Villa Grano, onde a Eliana Pereira dos Santos trabalha há dez anos. Hoje gerente do estabelecimento, ela teve um motivo especial para apoiar a iniciativa: na infância, a partir dos 8 anos, em Almenara (MG), trabalhou em plantações de mandioca e na venda de pamonha.
Na época eu não tinha noção do que era trabalho infantil, trabalhava para ajudar a família. Acordava cedo, ia para escola e voltava para trabalhar. Mas hoje sinto falta de poder ter aproveitado melhor minha infância”, diz ela. “Eu falo para os meus quatro filhos valorizarem o estudo. Batalhei muito para que eles não tenham que trabalhar na infância e possam estudar”.
O Pátio SP, também na Vila Madalena, foi outro bar que recebeu os cartazes da campanha. Segundo o gerente, Flávio dos Santos Silvestre, o estabelecimento procura adotar procedimentos para coibir o trabalho infantil. “Como somos contra o trabalho infantil, nossos seguranças não permitem a entrada no bar de crianças e adolescentes para venderem produtos. Mas ainda assim, as crianças ficam na região das mesas. Aí orientamos nossos clientes para não comprarem”.
Preocupação com encaminhamentos
Por serem ligados a diversas questões de vulnerabilidade social, casos de comércio ambulante praticado por crianças trazem certas preocupações para a população quanto aos encaminhamentos que serão providenciados pelos serviços da Assistência Social.
Essas dúvidas, inclusive, apareceram durante o primeiro dia de atividades da campanha Copa Sem Trabalho Infantil. “Sei que são situações bem complicadas, muitas vezes [a renda obtida com a venda de produtos] é o único sustento familiar. Mas nós vemos, à noite, diversas crianças vendendo produtos e, não raramente, há uma só pessoa comandando várias dessas crianças, explorando. Então é preciso denunciar”, apontou a jornalista Samanta Trevisan Coelho.
A professora Carolina Oliveira, na companhia de sua filha Júlia, de 8 anos, também comentou com as orientadoras sociais sobre a necessidade de encaminhamentos que deem conta da complexidade dos casos. “Não adianta só tirar a criança do comércio ambulante e não oferecer nenhum apoio a ela e também a seus pais. É preciso ajudar essa família toda”, disse.
Todos esses questionamentos foram devidamente esclarecidos pelas orientadoras sociais, explicando que ações como as propostas pela campanha Copa Sem Trabalho Infantil buscam mapear crianças em situação de trabalho infantil para assegurar proteção social a elas e às suas famílias. A primeira preocupação é acolher e entender como a ajudar a família como um todo a se estruturar. Apenas em casos extremos há medidas mais drásticas, como a perda da guarda das crianças.
A autônoma Lais Bonamin, moradora da região da Vila Madalena, considerou a campanha como uma ação necessária. “Não só na minha rua, mas na região de Pinheiros e na cidade inteira”, afirmou. Quando questionada se possuía conhecimento de que o comércio ambulante realizado por crianças configura uma forma de trabalho infantil, Laís admitiu que não, devido a uma naturalização da prática. “A gente imagina [que seja algo ilegal]. Mas não vemos nada sendo feito para mudar isso e passamos a achar que é um cenário normal”.
A Campanha
As ações da iniciativa terão como prioridade os jogos do Brasil, nos quais há maior concentração de público nos bares. A partir de 20 de junho, segundo jogo da seleção brasileira na competição, os orientadores irão circular com uma camiseta especial da campanha, sendo facilmente identificáveis.
Além da distribuição de materiais informativos, a hashtag #chegadetrabalhoinfantil renderá desconto no app de transporte Cabify, entre 12 e 30 de junho.
O tema também receberá divulgação online pelas redes sociais da Rede Peteca e de parceiros, por meio de cobertura jornalística e postagem de peças específicas no Facebook e Instagram.
A Campanha buscará também incentivar o envolvimento de atletas, visando garantir apoiadores da causa no universo do esporte, em especial, do futebol, para ampliar a disseminação da temática.
Consequências
Entre 2007 e 2017, 40.849 meninos e meninas sofreram acidentes de trabalho, sendo 24.654 de forma grave, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.
Outras 236 crianças e adolescentes perderam a vida nesse período. Além disso, o trabalho infantil pode trazer as seguintes consequências:
– Abuso sexual
– Consumo de drogas
– Aliciamento pelo tráfico de drogas
– Má formação física
– Comprometimento intelectual
– Traumas psicológicos
– Atropelamentos
– Evasão escolar ou perda de rendimento