06/02/2017|
Por Bruna Ribeiro
A Lei do Aprendiz é considerada uma das principais formas de combate ao trabalho infantil. Agora imagine um programa que destine 100% de suas vagas a negros de baixa renda. Pense ainda em outra iniciativa que incentive jovens a refletirem sobre seus planos de vida e a desenvolverem projetos práticos nas comunidades onde vivem. As duas iniciativas são algumas das ações realizadas pela Coca-Cola Brasil.
Aliando o combate ao trabalho infantil com a busca da equidade racial e de gênero, a empresa desenvolve outras ações inclusivas, envolvendo também os adolescentes. É uma boa prática que serve de inspiração para as empresas localizadas no Brasil, onde a legislação garante a proteção de adolescentes com mais de 14 anos que desejam por vontade própria entrar no mercado de trabalho.
Presente no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei do Aprendiz é uma das maneiras de se enfrentar o trabalho infantil e garantir educação, qualificação profissional e as medidas necessárias ao trabalho adolescente protegido.
Apesar da regra, atualmente há apenas cerca de 700 mil jovens aprendizes no país, segundo a procuradora do Trabalho Mariane Josviak. A possibilidade de contratação, no entanto, alcança 1,8 milhão de vagas.
Essa realidade mostra a urgência de se debater o tema. Para isso, conversamos com Pedro Massa, diretor de valor compartilhado da Coca-Cola Brasil. Confira a entrevista:
Como funciona o programa de aprendizagem na Coca-Cola Brasil?
O Programa Jovem Aprendiz foi criado alinhado aos valores da The Coca-Cola Company: ter uma força de trabalho tão diversa quanto os mercados que atendemos. Estamos dando mais um passo na promoção desse ambiente de trabalho voltado à diversidade.
São 15 jovens alocados em diversas áreas, na intenção de promoverem desenvolvimento e capacitação. Os gestores assumem um papel fundamental para impactar a vida deles e contribuir para a formação e a escolha de carreira.
Como é o dia a dia dos aprendizes?
Os jovens trabalham 4 ou 6 horas por dia, conforme critérios do Ministério do Trabalho. Eles são orientados por gestores a realizarem atividades que visam contribuir com essa primeira experiência, com o intuito de prepará-los para o mercado de trabalho ou uma oportunidade interna após o término do programa.
Eles trabalham quatro dias na Coca-Cola e passam o quinto dia útil da semana participando de capacitação com o nosso parceiro, a Rede Cidadã. Além disso, criamos o programa Passaporte do Conhecimento, no qual os jovens precisam concluir cursos e palestras durante o horário de trabalho, todo mês. O objetivo primordial é incentivá-los ao estudo e ao aprimoramento constante.
Além disso, eles têm a opção de participar de um programa de desenvolvimento acadêmico, no qual reembolsamos 50% do valor nos cursos de graduação. Pós-Graduação ou MBA obedecem o acordo com o teto máximo (conforme a política).
Como vocês atuam na perspectiva da equidade racial e de gênero?
Em 2012, a Coca-Cola Brasil criou o Comitê Lideranças para o Futuro, na intenção de pensar as barreiras dos futuros líderes da companhia, como questões de gênero e raciais, unindo agendas individuais e soluções coletivas.
Dentro desse projeto, em 2015 a empresa assinou o pacto Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial. Trata-se de um trabalho afirmativo sobre como cada indivíduo pode contribuir para a empresa.
Passamos a revisitar as políticas de recrutamento, desenvolvimento e retenção de pessoas. Começamos pela revisão do perfil dos candidatos ao Programa de Trainee. Antes, era exigido o inglês, mas a língua passou a não ser mais exigida como barreira no processo seletivo a partir de 2016. Com isso, o jovem selecionado que não souber o idioma terá quatro horas e meia de aulas por semana.
Já o programa Jovem Aprendiz destina 100% de suas vagas a negros. Foram selecionados 15 jovens que agora estão trabalhando em diferentes áreas.
Qual é a importância da aprendizagem no combate ao trabalho infantil?
Acreditamos que a aprendizagem é uma maneira eficaz de combate ao trabalho infantil, pois possibilita que os jovens se preparem para o mercado de trabalho e tenham condições básicas de desenvolvimento, desde o início de sua formação profissional.
Como ocorre o acompanhamento da cadeia produtiva no combate ao trabalho infantil?
A Coca-Cola Brasil mantém um rígido controle em sua cadeia de valor, que deve estar alinhada com a estratégia de sustentabilidade da companhia. As práticas dos fabricantes e dos fornecedores são monitoradas e devem seguir os mesmos princípios de conduta da empresa. São realizadas auditorias frequentes, além de outros mecanismos de controle.
Todos os fornecedores da Coca-Cola devem atender ao sistema de qualidade da companhia, que adota os Princípios de Orientação do Fornecedor (POF) – conjunto de valores e expectativas que englobam temas como o respeito à liberdade de associação e à negociação coletiva, a eliminação do trabalho infantil e análogo ao escravo, além do combate a toda forma de discriminação. Os princípios fazem parte de todos os contratos com fornecedores autorizados e diretos.
Com relação às usinas de açúcar, a Coca-Cola atuou diretamente na elaboração, implantação e engajamento da certificação Bonsucro. Hoje 40% das usinas de cana-de-açúcar fornecedoras da Coca-Cola são certificadas. Auditável, a certificação é uma importante ferramenta de controle de boas práticas.
A Coca-Cola investe em novos projetos para combate ao trabalho infantil e promoção dos direitos das crianças e adolescentes?
Desde 2009, o programa Coletivo Jovem ajuda pessoas entre 16 e 25 anos a se prepararem para o mercado de trabalho e as conecta com oportunidades para se desenvolverem. O programa, do Instituto Coca-Cola Brasil, já formou mais de 130 mil jovens de 2010 a 2016, em mais de 100 unidades, distribuídas em 13 estados e 51 municípios.
O aluno é convidado a pensar no seu plano de vida e desenvolve projetos práticos nas comunidades onde vive. O conhecimento aliado à valorização da autoestima é um diferencial para que os jovens em início de carreira conquistem seu espaço e exerçam a cidadania.