05/09/2017|
Por Bruna Ribeiro
Uma riqueza de debate que só a diversidade pode trazer. Foi essa sensação que marcou o primeiro dia do Encontro Nacional de Adolescentes pela Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (ENAPETI), iniciativa do Ministério Público do Trabalho do Ceará (MPT-CE), em parceria com a Associação para o Desenvolvimento dos Municípios do Estado do Ceará (APDM-CE), em Fortaleza, na segunda (4).
Adolescentes de todas as regiões do Brasil se reuniram para falar sobre a promoção dos direitos de crianças e adolescentes. Foram 22 jovens protagonistas que trouxeram a voz de suas comunidades.
Houve espaço para indígenas, quilombolas e moradores de assentamentos. As regiões Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste estavam ali por um único objetivo: serem ouvidos para a construção de um país melhor para a infância e juventude.
Logo pela manhã, no primeiro momento do evento, Antonio de Oliveira Lima, Procurador do Trabalho do Ceará, liderou uma mesa, onde os participantes realizaram perguntas aos representantes do sistema de garantia de direitos, como conselheiros tutelares, militantes e autoridades do poder executivo e judiciário.
Anna Luiza Calixto, de Atibaia (SP), perguntou a Marcelo Nascimento, consultor em direitos humanos de crianças e adolescentes, qual é a importância de incentivar o protagonismo infantojuvenil no sistema de garantia de direitos e como ocorre a intersetorialidade.
“Temos grandes desafios. É muito bonito falar do sistema de garantia de direitos, mas a principal tarefa é quebrar as caixinhas que nos separam. A assistência social, saúde, educação e direitos humanos devem dialogar, sempre ouvindo vocês, mas existem ainda muitas limitações. Criança e adolescente são prioridade absoluta e vamos lutar para viverem fora de qualquer violência”, respondeu Nascimento.
Experiência de vida
Durante a conversa, Thiago Silva dos Santos, de Santa Catarina, perguntou à desembargadora Vilalba Lopes, coordenadora da infância e juventude no Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, a respeito dos abrigos para crianças em situação de rua.
Na resposta, a desembargadora se comoveu ao ressaltar que as crianças dos acolhimentos sofrem a indiferença da sociedade. “Elas ficam nos abrigos e quando completam 18 anos, precisam sair. Mas para onde vão?” questionou.
O autor da pergunta conhece bem essa realidade. Pela tarde, os 22 adolescentes protagonistas foram divididos em sete grupos, junto a cerca de 150 jovens do estado do Ceará. Foi quando Thiago contou sua história, em uma das salas.
De uma família de três irmãos, ele viveu a situação de extrema pobreza e vivenciou na pele a situação de trabalho infantil. Acordava todos os dias às 5h e, antes de ir à escola, pegava latinhas na rua e pedia o pão amanhecido na padaria. “Muitas vezes passei fome e sempre apanhei. Um dos padrastos que tive chegou a queimar um brinquedo que ganhei de doação”, contou.
Atualmente, aos 18 anos, ele mora com a tia, estuda publicidade e faz estágio em uma agência. “Quero inspirar todos os adolescentes a terem força e a incidirem em suas regiões.”
Futuro
Essa é também a vontade de Antonio de Oliveira Lima. “Estou muito feliz com esse momento. É o primeiro encontro nacional. Vamos multiplicar nossa experiência pelo país”, disse.
Por fim, todas as aspirações dos grupos foram transformadas em propostas, a exemplo do pedido de um maior espaço para expressão do povo indígena e quilombola, fortalecimento dos grupos organizados por adolescentes, como grêmios, implementação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) na grade curricular, entre outros.
Na terça (5), os grupos se reunirão novamente para trabalharem ainda mais em suas propostas, que serão levadas ao poder público. Acompanhe a cobertura na Rede Peteca – Chega de Trabalho Infantil.