“Luto por um mundo onde cada criança tenha o direito de ser criança”, diz jovem atuante

WhatsappG+TwitterFacebookCurtir

28/11/2017|

Por

Por Alanna Mangueira, 19 anos, de Santo Amaro das Brotas (SE), em depoimento a Bruna Ribeiro


Sou Alanna Mangueira, tenho 19 anos de idade. Moro no município de Santo Amaro das Brotas, interior do Estado de Sergipe. Milito na área da infância e da juventude desde os meus 12 anos de idade e passei a lutar contra o trabalho infantil a partir dos meus 14 anos.

Crédito: Arquivo Pessoal

Crédito: Arquivo Pessoal

Sempre fui muito ativa nos projetos da escola, muito questionadora, curiosa e, acima de tudo, sempre sonhei com um país mais justo e igualitário. Ainda pequena, acompanhava alguns professores em atos sindicais. Por este motivo, fui indicada pela minha escola (na época, a Escola Municipal Benedito Figueiredo), a participar da 9ª Conferência Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente no ano de 2012, em Santo Amaro.

Eu ainda não tinha ideia do quão importante era aquele espaço e que estar ali era um direito meu. Mesmo sem saber, até então, o que era o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), aceitei a indicação. Mal sabia que ali eu iniciaria a minha trajetória de luta pelo Brasil e também fora dele.

Foi somente depois da etapa territorial da 9ª Conferência que eu me tornei uma militante apaixonada pela defesa e promoção dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Participei de todos os processos das conferências de direitos de crianças (DCA) e adolescentes em 2012 até chegar à Conferência Nacional.

Quando retornei dessa conferência, estava cheia de ideias e com muita garra para levar informações às outras crianças. No início, eu não tive apoio do município. Pedi ajuda aos meus amigos e fomos para as escolas falar sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Meu objetivo era levar a informação para outras crianças e outros adolescentes. A querida Valdenis, à época diretora do Colégio Estadual Esperidião Monteiro, abriu as portas da primeira escola para que eu pudesse palestrar. Sou muito grata a ela. 

Comecei a desenvolver um trabalho nas escolas de meu município: palestras e rodas de conversa. Na semana de 18 de maio [Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes], quando o projeto já estava com mais visibilidade, recebi o apoio do Conselho Tutelar e da Secretaria de Assistência da época.

Alanna Mangueira representa a garra, a determinação e a esperança jovem sergipana por um mundo justo e igualitário, com respeito aos direitos humanos, em especial de crianças e adolescentes. Neste vídeo ela fala de participação no I Enapeti, realizado em Fortaleza, nos dias 4 e 5 de setembro.

Posted by Conapeti on Saturday, September 9, 2017

A força da palavra

Além das palestras, fazíamos atos pelas ruas do município. Comecei a receber convites para palestrar em cidades vizinhas. Logo depois, recebi o convite para integrar o Comitê Estadual de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes e o Fórum Estadual de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil de Sergipe.

Em 2013, fui indicada pelo Fórum PETI e pelo Conselho Estadual da Criança para representar a infância e adolescência do Estado de Sergipe em um seminário nacional, cujo objetivo era o planejamento para a 3ª Conferência Global sobre Trabalho Infantil que seria realizada no Brasil. Foi a partir deste seminário que iniciei a minha luta contra o trabalho infantil.

No decorrer do ano de 2013, participei da conferência territorial, representando o nordeste, da conferência Nacional e depois Global, representando o meu Estado e o Brasil, juntamente com outros adolescentes. Durante a Conferência Global, conheci o trabalho desenvolvido pelo Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil (FNPETI) e na oportunidade, fui apresentada ao Kailash Satyarthi, que mais na frente, em 2014, se tornaria Nobel da Paz.

Em 2014, já engajada na luta, comecei a fazer parte do Movimento Nacional de Direitos Humanos, do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e me tornei voluntária nas ações desenvolvidas pela Campanha Nacional Criança Não é de Rua.

Ainda nesse ano, me tornei presidente do grêmio estudantil no Colégio Estadual Felipe Tiago Gomes e debatia a importância da participação, em todas as oportunidades que eu tinha.

Defendia que a participação é a essência da democracia, um direito que pode nos levar à conquista de outros direitos. Mais na frente, eu participei da 10ª Conferência Nacional DCA – a minha última conferência enquanto adolescente.

Alanna Mangueira_Crédito: Arquivo Pessoal

Crédito: Arquivo Pessoal

Militância sem fronteiras

No decorrer de 2017, recebi um convite do Kailash Satyarthi, por meio do FNPETI, para fazer parte da coordenação jovem da Iniciativa 100 milhões por 100 milhões, lançada no dia 12 de junho, no Museu Nacional de Brasília.

No Brasil, a iniciativa é coordenada pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, parceria temática do Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. Eu integro a coordenada jovem, juntamente com outra jovem, a Ana Júlia Ribeiro.

Essa plataforma tem como objetivo mobilizar 100 milhões de pessoas, sobretudo os jovens, para lutar pelos direitos de 100 milhões de crianças que vivem na extrema pobreza, em situação de trabalho infantil e fora da escola.

Após o lançamento, recebi o convite para participar do Encontro Nacional de Adolescentes na Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil em Fortaleza, onde foi criado o Comitê Nacional de Adolescentes e Jovens na Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil, ao qual integro representando Sergipe e também o Nordeste, juntamente com outros jovens atuantes.

Há alguns meses, eu fui para a Índia participar de uma reunião global de planejamento da Iniciativa do Kailash. Desde então, tenho discutido a pauta do trabalho infantil, feito os lançamentos estaduais do 100 milhões em alguns Estados brasileiros e dando apoio a jovens ativistas de outros países.

Em discurso na Frente Sergipana Contra a Redução da Idade Penal, no ano de 2015. Crédito: Arquivo Pessoal

Em discurso na Frente Sergipana Contra a Redução da Idade Penal, no ano de 2015.                       Crédito: Arquivo Pessoal

Histórico de luta

Poucos sabem, mas o meu foco na área do trabalho infantil se dá pela história de vida dos meus pais. Meu pai começou a trabalhar desde muito cedo e não teve a oportunidade de ir à escola e nem o direito de ser criança e aproveitar a infância, porque a demanda de trabalho para ajudar a mãe dele era muito grande.

Da mesma forma a minha mãe quando criança, por ser a mais velha, tinha de cuidar da casa, dos irmãos, e depois vender mariscos na rua. Quando voltava, se desse tempo, ela corria para a escola para estudar.

No primeiro momento em que eu entendi o que era o trabalho infantil e a violação de direito que ele representa, decidi usar a minha voz como o meu instrumento de luta por um mundo onde cada criança tenha o direito de ser criança. Me comprometi a falar por aqueles que, ainda que falem, não são ouvidos e a fazer valer o meu direito à participação.

Quando deve começar o protagonismo de crianças e adolescentes na luta por seus direitos?

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.