Brasil recebe Fórum Global da Criança na América do Sul pela 1ª vez e rainha faz apelo a empresas

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05/04/2017|

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Foi com um apelo que a rainha Sílvia da Suécia encerrou sua fala no Fórum Global da Criança na América do Sul, evento sediado pela primeira vez que o Brasil, em São Paulo. “Se ergam, falem alto e em bom tom, combatam e denunciem qualquer injustiça contra a infância. Adotem medidas concretas, entendendo a importância de pequenas e grandes empresas na proteção da fase mais vulnerável da vida de um ser humano”, disse ao público que acompanhava o evento na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

O encontro, organizado pelo Global Child Forum, organização social do rei Carl XVI Gustaf e da rainha, em parceria com a UNICEF e Childhood Brasil, buscou sensibilizar representantes de companhias da América Latina a investir na proteção da infância e em ações sociais como forma de melhorar seus negócios.

Rainha “brasileira” da Suécia

rainha silvia

divulgação/Suécia

A rainha Sílvia Sommerlath, de 73 anos, é filha de um alemão e de uma brasileira. Nasceu na Alemanha e morou em São Paulo por dez anos. Conheceu o rei Gustaf durante as Olimpíadas de Munique, em 1972, quando trabalhava como tradutora. Entrou para a família real em 1976, ao se casar, e hoje é uma reconhecida militante dos direitos da crianças.

 

Contando com a presença de líderes governamentais do Brasil, o fórum começou com uma importância conquista legislativa. O presidente Michel Temer (PMDB) sancionou pela manhã a Lei de Escuta Protegida (3792/15), protocolada pela deputada Maria do Rosário (PT-RS). A PL é para proteger a criança e a adolescente vítima de violência, diminuindo o número de depoimentos e capacitando os profissionais para um atendimento mais humanitário. “Lutamos por isso há dez anos, e estamos muito contentes em ver a lei finalmente sair do papel”, falou Ana Maria Drummond, diretora-executiva da Childhood.
Para mostrar aos convidados um panorama de como empresas da América Latina se relacionam com o sistema de garantia de direitos da infância e adolescência, o Global Child Forum realizou a pesquisa “O setor coorporativo e os direitos da Criança na América do Sul” (The Corporate Sector and Children’s Rights). Foram colhidos indicadores de 282 das maiores companhias da região, tais como: existência de política contra o trabalho infantil; colaboração com organizações de proteção à infância; e fiscalização da cadeia de produtiva, com monitoramento de impactos sociais e ambientais sobre a crianças e adolescentes.

 

Criada em 1999 pela Rainha Silvia, a Childhood Brasil é uma organização brasileira de proteção à infância e faz parte da Childhood Foundation, que fornece apoio financeiro a projetos de organizações locais em mais de 16 países.

No Brasil, a instituição já patrocinou diversas boas-práticas na área, como o combate à exploração sexual de crianças em rodovias e a melhoria do atendimento a essas vítimas.

“É fundamental que as empresas entendam como crianças interagem com sua organização”, explicou Fiona Rotberg, diretora de pesquisa do Fórum. Foram eleitas 9 empresas exemplos de conduta: BCP, Banco do Brasil, Bradesco, EcoPetrol, Celesc, Edp, Weg, Holcim, Klablin, Grupo Familia, Falabella, Telecom e Duratex. A Klablin, líder em produção de papel no mercado brasileiro, mantém, em parceria com a Childhood Brasil, campanhas contra exploração sexual em localidades onde constrói fábricas, com atenção especial para o fluxo de trabalhadores temporários atraídos para essas regiões.

Ainda que atuem em áreas diversas, as empresas comprometidas com a promoção dos direitos da infância mostraram sintonia em um aspecto: é impossível erradicar qualquer mazela social se o trabalho não for feito em parceria. Na visão das organizações, o Estado, a iniciativa privada e a sociedade civil devem se engajar e repartir a responsabilidade, multiplicando assim o alcance de suas ações. É o que explica a diretora-executiva da Childhood:

Gerar transformação sem olhar para toda cadeia de valor é enxugar gelo. Na Childhood, por exemplo, trabalhamos com caminhoneiros há muitos anos, e só conseguimos ver resultado quando engajamos empresas de diversos portes e toda rede ligada a ela”.

A segunda parte do evento dividiu os participantes em quatro workshops, nos quais foram discutidos temas como a proteção da criança na cadeia de valor ou o desenvolvimento de produtos sensíveis aos direitos da infância e adolescência.

Representantes de empresas-modelo nessas áreas monitoraram o encontro. Maria Cláudia Falcão, coordenadora do Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil da Organização Internacional do Trabalho, chamou a atenção para o fato de que ainda existem 12,5 milhões de crianças envolvidas no trabalho infantil na América Latina, em áreas como economia informal, rural e o trabalho doméstico. “São áreas de difícil erradicação justamente por seu aspecto de invisibilidade socialmente aceita”, observa.

Após a realização dos workshops, o público se reuniu no auditório para compartilhar apontamentos feitos nos quatro grupos, bem como para ouvir recomendações de dois especialistas em integração entre negócios bem sucedidos e responsabilidade social: Carolina Medina, fundadora da Agruppa, uma iniciativa para empoderar e apoiar pequenos feirantes,; e Paul Sistare, fundador da Atlantica Hotels International, única cadeia hoteleira a ter um pacto contra exploração sexual infantil.

A riqueza de um encontro como esses, que anos atrás seria impossível de se pensar, é justamente a troca de experiências entre empresas e sobre como elas podem se ajudar”, concluiu Gary Stahl, representante da UNICEF.

O evento terminou com solenidades da rainha da Suécia e também da primeira dama do Brasil, Marcela Temer.

Lei da Escuta Protegida, que amplia proteção às crianças vítimas de violência, é sancionada

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