23/11/2018|
Por Bruna Ribeiro
Conscientizar a população sobre os malefícios do trabalho infantil é um desafio cultural. Ainda há aqueles que defendem a tese de que crianças e adolescentes têm a obrigação de ajudar no sustento da casa. Por isso a plataforma Rede Peteca – Chega de Trabalho Infantil realizou, no dia 22, uma roda de conversa com educadores da Escola Municipal Infante Dom Henrique, localizada no bairro do Canindé, região central da cidade.
A ação foi em parceria com a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de São Paulo, com o objetivo de sensibilizar os professores sobre o tema, refletir sobre as principais dificuldades enfrentadas em sala de aula e apontar caminhos para a resolução desses conflitos, por meio dos serviços da assistência social.
A escola está localizada em um típico polo de pequenas oficinas de costura. O trabalho infantil na indústria da moda é uma das piores formas de trabalho infantil, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).
Na Infante Dom Henrique, quase 25% dos alunos são imigrantes, 90% vindos da Bolívia. Os demais são provenientes do Paraguai, Venezuela, entre outros países. O trabalho infantil também atinge os estudantes brasileiros da EMEF, mas em outros setores, como o tráfico de drogas e o trabalho infantil doméstico – ambos na lista das 93 piore formas de trabalho precoce.
Para o coordenador pedagógico Carlos Eduardo Fernandes Junior, a escola só consegue dar conta de todas as violações de direitos sofridas pelos alunos, com apoio do Sistema de Garantia de Direitos de Crianças e Adolescentes, como a assistência social e os agentes de saúde.
Precisamos conhecer a fundo a comunidade escolar e agir de forma intersetorial para garantir a aprendizagem”, observa.
Também presente na roda de conversa, Milena Marques Micossi, assistente técnica na Diretoria Regional de Ensino (DRE) da Penha, concordou com o coordenador. “Uma criança com 40 graus de febre consegue prestar atenção na aula ou brincar naturalmente? Não. O mesmo acontece quando o aluno enfrenta problemas maiores. Precisamos garantir uma estrutura de direitos para depois chegar à aprendizagem. Isso é humanização“, disse.
Para a professora Marcela Antônio do Carmo, os momentos de formação são importantes, pois muitas vezes os educadores ficam muito preocupados em cumprir o currículo a ser ensinado em sala de aula e deixam de observar as outras questões da vida dos alunos.
“Se a criança não se alimenta direito, não brinca, não descansa e não tem sono adequado, ela não vai aprender. Muitas vezes ficamos muito preocupados com o conteúdo e deixamos de olhar para o integral. Essas conversas são importantes para nos lembrar disso e também para termos informações sobre a rede de proteção e como proceder em cada caso.”
Material de divulgação
Além da roda de conversa, a plataforma distribuiu um material com os endereços e telefones dos CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) existentes naquela região da cidade, além de informações sobre o que é o trabalho infantil, quais são as consequências e como proteger as crianças.
O Brasil tem 2,5 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos trabalhando, a grande maioria nas regiões urbanas (Pnad Contínua, 2016). Entre 2007 e 2017, 40.849 meninos e meninas sofreram acidentes de trabalho, sendo 24.654 de forma grave, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) do Ministério da Saúde.